25-3-2013
A
Orquestra e o Coro sairiam de Lisboa logo após o almoço, para terem um ensaio
de colocação cerca das 3 horas da tarde, e à noite o Concerto. Pelas 7 horas da
manhã, uma camioneta com dois ajudantes transportaria todo o material, assim
como as 3 caixas com Tímpanos e os Contrabaixos, que devido ao seu volume não
iam no autocarro juntamente com a Orquestra.
Na
véspera desse dia, Quarta-feira, os trabalhadores dão conhecimento ao Serviço
de Música, departamento responsável pela realização do Concerto, que decidiam não
trabalhar na Quinta-feira Santa por ser feriado, e como tal lhes assistia o
direito a dia de descanso, conferido pelo Sindicato!
Perante
tal decisão, o Concerto teria de ser cancelado à última da hora, com todas as
inconveniências por falta de tempo para dar conhecimento ao público, e para as
150 pessoas da Orquestra e Coro, para não falar de todas as despesas envolvidas
e da reputação da própria Gulbenkian!
Toda
uma situação resultante da falta de profissionalismo, apoiados ou instigados
pela prepotência ou determinação de poder dos Sindicatos Progressistas.
Entre o
dilema do cancelamento do Concerto com todas as consequências implicadas, e
tomar uma atitude que resolvesse essa crítica situação, fui junto do então
Director do Serviço, este numa situação bastante embaraçosa com o
acontecimento, e comprometi-me a viabilizar aquele concerto, tomando a
responsabilidade de organizar com a Câmara da Batalha o transporte e ajuda de
pessoal para a carga e descarga de todo o material, da Fundação para o
Mosteiro.
Com a
colaboração do pessoal camarário, uma camioneta com alguns homens, e a ajuda de
dois dos serventes já acostumados à montagem daquela bancada para o Coro, pus-me
a fazer aquilo que na Holanda tinha também aprendido: trabalhar lado a lado com
aqueles homens, sem preconceitos sociais ou profissionais, carregando ferro e
madeira, dando o exemplo e o estímulo, que resultou num sucesso, tendo o
Concerto sido realizado ao agrado do público, e sobretudo de quem trabalhou
para que tal tivesse sido possível.
Tenho
as minhas dúvidas que esta história possa fazer parte do arquivo do Serviço de
Música, ou da Fundação Calouste Gulbenkian, mas creio existir ainda quem se
possa recordar, e espero que acontecimentos desagradáveis como este, nunca
tivesse voltado ou volte a acontecer.
O então
Encarregado da Orquestra Gulbenkian até 1980, Manuel SARAIVA DA COSTA.
Manuel
da Costa
Sydney,
25 de Março de 2013
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