É triste falar sobre o que difícil é de compreender!
Cheguei a ser colega do Joaquim Simões da Hora, no Conservatório de Música do Porto.
Enquanto trabalhei com meu pai, conheci o pai
dele quando ia alugar o harmónio portátil para acompanhar o grupo coral que
dirigia.
Eu não lhe era desconhecido, nem como colega
nem pelo trabalho que fazia, em pianos, harmónios e órgãos, e mais tarde já na
Gulbenkian, quando organeiro.
Encontramo-nos diversas vezes, em Lisboa, não
por questão de trabalho, mas ocasionalmente durante e depois dos restauros
feitos nos órgãos onde ele chegou a tocar, como o de Évora, Porto, Universidade
de Coimbra e Faro. Profissionalmente nunca demonstrou interesse no meu trabalho,
fazendo-me estranhar a sua atitude.
Quando por imposição da Gulbenkian eu tive de
abdicar da minha profissão de organeiro, que naquela altura só me ocupava uma
percentagem em tempo inferior à de Encarregado da Orquestra, e eu tive de
deixar de prestar assistência a esses e outros órgãos, nunca me chegou ao
conhecimento que mais alguém me estaria a substituir. Isto até à minha saída,
em 1980.
“É inconcebível, como esses instrumentos se
mantinham funcionais e sobretudo afinados (?), para que estivessem a ser usados
em recitais ou concertos, sem serem afinados periodicamente”!
Enquanto eu me encarregava da orquestra, e os
órgãos deixaram de ter a minha assistência, nunca me apercebi de que a minha
falta fosse notada por pessoas ligadas à arte dos órgãos de tubos, como o Joaquim
Simões da Hora, Cónego Ferreira dos Santos, Gerhard Doderer, delegados dos Monumentos Nacionais, e até da própria Igreja,
tivessem qualquer interesse ou intenção de se manifestarem no sentido de serem reclamados
os serviços do único organeiro qualificado e recentemente formado, do qual não restavam
dúvidas sobre a sua competência.
A Gulbenkian teria mais interesse (!) que eu
continuasse com a orquestra, que era para mim a garantia da minha subsistência
assim como a de minha mulher e três filhos, até porque a instituição tinha
suspendido os subsídios para os trabalhos em órgãos, consequências da então
situação política na Fundação e no país.
Faz crer que havia sido organizado mas ainda
oculto, um “grupo de oportunistas” que iria tirar partido num futuro muito próximo,
dos dinheiros “oferecidos” pela Comunidade Europeia a Portugal, na qual eu não
seria pessoa de comparticipar pela dificuldade de ser manobrado, porquanto
nunca seria pessoa capaz de em meu próprio proveito, vender a minha consciência
ou a minha dignidade.
O projecto e as intenções da então directora
do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, Dr.ª Maria Madalena
Perdigão (até 1974), conforme me havia sido dito e prometido, e para o qual a Fundação
havia investido na minha formação uma pequena fortuna, iria dar-me a
possibilidade de como funcionário daquela Fundação ou como empresário
independente, ter possibilidade em continuar com todos os trabalhos de
restauro, manutenção, afinação e construção de novos órgãos, que até àquela
altura estavam a ser feitos no estrangeiro, tanto mais que em Portugal esse trabalho
não faltaria, como depois da minha saída se veio a verificar. Desse
investimento pouco ou nada foi aproveitado, a não ser por quem o acolheu no estrangeiro.
Durante os últimos cinco anos como Encarregado
da Orquestra, posição que como disse anteriormente tive de manter, já por fim essa
situação começava por ser intolerável e penosa devido à frustração que sentia, começando
por entrar num estado depressivo que só terminou quando na Austrália retomei o
meu verdadeiro trabalho de organeiro.
Sydney, 31 de Janeiro 2013
Manuel M.
Saraiva da Costa
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