About Me

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Sydney, N.S.W., Australia
Aos 12 anos de idade comecei como aprendiz com meu pai, na construção, reparação e afinação de Harmónios. Reparação e afinação de Pianos e Órgãos de Tubos. [instrumentos musicais] Aos 16 anos trabalhava por conta própria. Com 22 anos tinha a Carteira Profissional na especialidade de Rádio e Electrónica, que me permitiu trabalhar nos acordeões e órgãos electrónicos, amplificadores de som, e acumulei ao meu trabalho nos instrumentos, a manutenção do controlo electrónico das novas máquinas instaladas na “FACAR”, em Leça da Palmeira, Matosinhos. Aos 27 anos fui para a Holanda com uma bolsa de estudo onde me aperfeiçoei na Construção, Manutenção, Afinação e Restauro dos Órgãos Antigos ou Históricos. Trabalhei como Organeiro na Gulbenkian em Lisboa, de 1970 a 1974, e como Encarregado da Orquestra Gulbenkian, de 1974 a 1980. Em 1980 emigrei para trabalhar no restauro do "Sydney Town Hall Grand Organ". Em 1990 como "Mestre Organeiro" foi-me entregue, a conservação, manutenção e afinação daquele prestigioso Órgão, no qual trabalhei 31 anos, até me aposentar em 2011. com 72 anos de idade. Ver mais no meu CURRÍCULO.

Friday, December 4, 2015



PORTO, E O SEU SAUDOSO PALÁCIO DE CRISTAL








UMA HISTÓRIA INTERESSANTE SOBRE O FAMOSO E DESAPARECIDO ÓRGÃO DE TUBOS, E O MEU COMENTÁRIO.





História que passo a partilhar:

O saudoso maestro Manuel Ivo Cruz escreve, em O Tripeiro Série VII, Ano XIX, Nº. 9, o seguinte:

“Com 2750 tubos, o órgão do Palácio de Cristal era um instrumento imponente, na linha dos grandes órgãos românticos, ou sinfónicos, cuja invenção se deve ao organeiro francês Aristide Cavaillé-Coll (1811/1899) … Construído em 1862 em Londres por J. William Wolber e vendido para o Porto por sete contos de reis… Para acompanhar a montagem e propiciar a instrução necessária à sua eficiente utilização, deslocou-se ao Porto o já então célebre organista e compositor francês Charles-Marie Widor (Lion 1844 – Paris 1937), personalidade marcante da música europeia, embora hoje bastante esquecido.”
Na sessão inaugural deste órgão, Widor tocou uma peça musical por si composta propositadamente para esse concerto. Esta peça foi de novo executada em 1995 no concerto de inauguração do órgão romântico da Igreja da Lapa.
"Quando, em 1951 este órgão foi destruído, constou na cidade que os tubos teriam sido levados e “alguém” se teria aproveitado da venda dos metais. Porém a “história” já vem de anos atrás. Em Maio de 1935 a CMP pretendeu mandar reparar o órgão de tubos do Palácio de Cristal.

Em 16 de Julho foram abertas 6 propostas de casas portuguesas e estrangeiras, mas a obra não foi adjudicada. Em 1947, a pedido da CMP veio ao Porto o Engº. José Ramos Sampaio, sócio da firma João Sampaio, Lda., organeiros de Lisboa, para examinar o estado do referido órgão. Descreve a sua visita ao palácio da seguinte forma: 

“Fomos ao Palácio. Não nos queriam deixar entrar, sendo necessário para isso mostrar a carta em que a câmara me participava a aceitação das condições para eu fazer a dita vistoria. Logo atrás de mim veio um outro guarda que disse depois que tinha ouvido a conversa e vinha para auxiliar em qualquer coisa. 
Depois de pôr uma escada de madeira, restos de um escadote improvisado e termos subido para o estrado do órgão, despimos os casacos e vestimos os fatos de macaco (eu e o Mário). Entrámos lá dentro levando eu a pasta com os apontamentos. Fiquei espantado quando vi que tinham desaparecido todos os tubos. 
O Mário só encontrou um minúsculo, fino como uma metade de um lápis e que estava caído e quase não se via, por isso escapou. Não havia mais. Nos secretos todos (excepto nos dos Pedais) não havia um tubo de madeira no lugar. Tinham sido todos tirados do lugar para facilitar o roubo e estavam amontoados sobre os secretos. 
Nos secretos laterais da pedaleira tinham ficado no lugar os tubos grandes de madeira e os funis (só os funis) dos tubos de palheta (os pés de chumbo com as palhetas desapareceram). No secreto surdina (todo dentro de uma caixa expressiva) tinham tirado várias réguas expressivas para entrarem lá dentro e fazer a mesma devastação. 
Era horrível o aspecto daquilo. Restavam os tubos da fachada, receavam talvez que se vise a falta… o homem disse-me que aquilo estaria assim há muitos anos! Respondi que não pois eu mesmo lá estivera havia 12 anos e não faltavam senão poucos tubos. No outro dia visitei o director dos serviços culturais da câmara”
 Em O Tripeiro Série VI, Ano XII. 

COMENTÁRIO QUE EM 22 DE SETEMBRO DE 2015 FIZ NO FACEBOOK:

SOBRE O FAMOSO ÓRGÃO DESAPARECIDO:



Porque a minha memória começa a falhar, ou porque só agora tomei conhecimento, devido à minha ausência de Portugal há mais de 35 anos.
Conheci e trabalhei com o maestro, Manuel Ivo Crus quando na Orquestra Gulbenkian, na década de 70. Sendo apenas 3 anos mais velho do que eu, lamento a sua morte, e à família, embora tardiamente, apresento as minhas condolências.

Interessantíssima história sobre este desprotegido instrumento, que naquele tempo parece ter estado ao “cuidado” da Câmara do Porto. Ontem como Hoje, a incompetência e a “roubalheira” são assuntos que deveriam ser debatidos e dados a conhecer publicamente, para que se desperte o interesse pela Defesa do Património.

Em tempos passados, era um Departamento dos então “Monumentos Nacionais”, responsável pela conservação destes instrumentos, cuja incompetência era demonstrada. Presentemente, e de nome mudado, não se nota diferença para melhor.

Ouvi de meu pai, quando eu ainda criança, alguns comentários sobre este magnífico órgão de tubos, que no tempo da segunda guerra terá sido dizimado quando “alguém” descobriu que os seus tubos de uma liga de chumbo e estanho, eram bem pagos pelos sucateiros.
Mais tarde, quando da criminosa demolição do Palácio, um dos “cooperadores” se suicidou, mas muitos outros, creio que nunca foram julgados.

Sydney 22 de Setembro de 2015