O
MEU FINAL DE CARREIRA PROFISSIONAL, E A MINHA ÚNICA FRUSTRAÇÃO QUE
NA AUSTRÁLIA SENTI
FOI O NÃO ME TER
SIDO DADA A OPORTUNIDADE DE DEIXAR A PRIVILEGIADA POSIÇÃO QUE
ALCANCEI, ENTREGUE A QUEM ME PUDESSE MERECER CONFIANÇA PROFISSIONAL
PARA DAR CONTINUIDADE A TODO UM TRABALHO AO QUAL SEMPRE ME DEDIQUEI,
COM PROFISSIONALISMO, COMPETÊNCIA E HONESTIDADE. OUTROS
CONHECIMENTOS QUE POR MIM LHE DEVERIAM TER SIDO PASSADOS, SERIAM
ESSENCIAIS CONDIÇÕES PARA DAR CONTINUIDADE A TODO UM TRABALHO DE
CONSERVAÇÃO E ASSISTÊNCIA QUE AQUELE MAGNÍFICO E
INTERNACIONALMENTE FAMOSO E APRECIADO INSTRUMENTO MERECE
Saí de Portugal em 1980, onde a minha
profissão de único Organeiro
especializado em restauro de órgãos de tubos antigos e históricos,
deixara de ter o futuro que me havia sido prometido, devido à
situação económica e sobretudo política após a revolução de 25
de Abril de 1974.
Vim então para Austrália, convidado por uma firma que estava a fazer um importante restauro no “Sydney Town Hall Grand Organ”, instrumento de grandes dimensões, internacionalmente conhecido e apreciado, que foi considerado o maior instalado no Hemisfério Sul, construído na Inglaterra nos anos 1886 a 1889.
Nesse instrumento trabalhei durante 10 anos por conta dessa firma, que após tempo estabelecido para sua manutenção pós-restauro, abdicou de um novo contracto. Fui então proposto e contratado para dar seguimento ao trabalho de conservação e manutenção daquele instrumento, ao qual outros organeiros australianos se absteriam de concorrer por falta de aptidão e em ter de assumir tão grande responsabilidade.
Vim então para Austrália, convidado por uma firma que estava a fazer um importante restauro no “Sydney Town Hall Grand Organ”, instrumento de grandes dimensões, internacionalmente conhecido e apreciado, que foi considerado o maior instalado no Hemisfério Sul, construído na Inglaterra nos anos 1886 a 1889.
Nesse instrumento trabalhei durante 10 anos por conta dessa firma, que após tempo estabelecido para sua manutenção pós-restauro, abdicou de um novo contracto. Fui então proposto e contratado para dar seguimento ao trabalho de conservação e manutenção daquele instrumento, ao qual outros organeiros australianos se absteriam de concorrer por falta de aptidão e em ter de assumir tão grande responsabilidade.
Por
minha conta e à minha inteira responsabilidade, trabalhei nesse
mesmo órgão por mais 21 anos, até que pedi a minha demissão, aos
72 anos de idade. Embora ainda pudesse continuar até aos 75, a minha
decisão foi imperativa para salvaguardar a minha reputação, uma
vez que me queriam envolver em algo menos honesto e contra a minha
dignidade moral e profissional.
Na
altura em que eu estava prestes a fazer os meus 65 anos de idade,
tempo para a normal aposentação ou reforma aqui na Austrália, fui
abordado pelo departamento da Câmara de Sydney, entidade depositária
daquele instrumento, e com quem eu tinha contracto como organeiro
responsável pela conservação, manutenção e afinação do
referido “Grand Organ“, que pretendiam saber até quando eu
estaria disposto em continuar aquele contracto, e se eu tinha em
vista quem me poderia substituir.
Pedi então à Câmara que procurasse
alguém com alguns conhecimentos de organaria,
que comigo trabalhasse por cerca de 2 anos, a fim de estar preparado
capazmente para assumir o meu lugar.
Esse
alguém
nunca foi encontrado, dadas as condições requeridas, e a
responsabilidade envolvente em manter nas melhores condições
originais e de funcionamento, que satisfizesse os mais exigentes
organistas nacionais e estrangeiros.
Eu mesmo cheguei a escrever para entidades e presumíveis “organeiros” em Portugal, que estivessem dispostos a emigrar e comigo trabalhar para que pudessem ter a oportunidade de prosseguirem com aquele prestigioso trabalho. Nenhuma resposta recebi!
Entretanto fui fazendo o meu trabalho sempre na esperança de aparecer alguém pelo menos com vontade de trabalhar, honesto e dedicado, até que uma nova e infeliz situação fez com que eu por dever de consciência tomasse a decisão de me aposentar, como assim veio a acontecer, e cujos motivos adiante dou conhecimento.
Eu mesmo cheguei a escrever para entidades e presumíveis “organeiros” em Portugal, que estivessem dispostos a emigrar e comigo trabalhar para que pudessem ter a oportunidade de prosseguirem com aquele prestigioso trabalho. Nenhuma resposta recebi!
Entretanto fui fazendo o meu trabalho sempre na esperança de aparecer alguém pelo menos com vontade de trabalhar, honesto e dedicado, até que uma nova e infeliz situação fez com que eu por dever de consciência tomasse a decisão de me aposentar, como assim veio a acontecer, e cujos motivos adiante dou conhecimento.
* * * * *
Nos anos de 2009 e 2010 estavam a ser
feitas grandes obras de remodelação no Salão Centenário do “Town
Hall”, onde se encontra em local específico e apropriado, o “Grand
Organ”.
Entre muitos dos trabalhos que foram efectuados, alguns atingiram
inapropriadamente e negligentemente aquele sensível instrumento, sem
que qualquer projecto de trabalhos que o pudesse envolver, me tivesse
sido apresentado para consulta, uma vez ser eu o responsável pela
integridade do instrumento que me estava confiado.
Dadas as circunstâncias e o tipo de trabalho que projectaram, considerando aquele instrumento como uma simples “arrecadação de tubos”, daí a minha imediata oposição, pois se tratava de um projecto concebido e aprovado por irresponsáveis e ignorantes, sem consciência do que faziam.
Dadas as circunstâncias e o tipo de trabalho que projectaram, considerando aquele instrumento como uma simples “arrecadação de tubos”, daí a minha imediata oposição, pois se tratava de um projecto concebido e aprovado por irresponsáveis e ignorantes, sem consciência do que faziam.
Completo
desconhecimento e desprezo pela integridade do que deveria ser
respeitado e preservado das nefastas consequências que daí
resultariam, e que vieram a resultar.
Posso
assim concluir com convicção, que estariam a ser escondidos
interesses obscuros, de um oportunismo duvidoso ou desonesto.
Dessa
minha reacção e tomada de posição contra tão aberrante
“trabalho”, foi ocasião para ser feita uma reunião de trabalho,
estando eu, o organista titular e três dos funcionários camarários
responsáveis (ou não) pelo património, com a finalidade de
novamente se procurar a pessoa que desse seguimento ao meu trabalho,
conforme há muito eu havia pedido.
Teria de ser aberto um concurso público, e o escolhido sujeito a trabalhar comigo por um período de 2 anos, até por mim ser considerado apto para o lugar, conforme cláusula específica dada a conhecer.
Teria de ser aberto um concurso público, e o escolhido sujeito a trabalhar comigo por um período de 2 anos, até por mim ser considerado apto para o lugar, conforme cláusula específica dada a conhecer.
Só que tudo aquilo não passou de uma farsa preparada para salvaguardar responsabilidades, que no meu entender considerava tratar-se de um evidente caso de corrupção, pois o candidato “encontrado” já havia previamente sido escolhido, e feito um contracto paralelo com o meu, sem que o meu tivesse expirado, ou eu renunciado.
O
“concorrente vencedor”, nunca antes me havia inspirado confiança,
quanto a falta de ética profissional, competência e até
honestidade. Esta farsa uma vez consumada serviria perfeitamente para
ocultar e resolver algo de duvidoso, como o encobrimento de
irresponsabilidades, competências, ou algo mais, conveniente a quem
aquele "Concurso Público" poderia beneficiar.
Isto
teria sido a resposta às minhas ameaças de pedir a demissão, caso
as obras continuassem a danificar o que era da minha responsabilidade
e dever de zelar, conforme as condições do meu contracto.
Apesar
de tentarem por várias vezes e maneiras manobrar a minha consciência
e honestidade sem o terem conseguido, em Fevereiro de 2011, o meu
pedido de demissão foi aceite, sem que a própria Presidente de
Câmara com o “clã” com que estava envolvida, quisesse saber a
causa de tão súbita demissão, não obstante eu lhe ter solicitado
uma audição, que por ela foi recusada!
*
* * * *
< “Um
Organeiro Português”, o Manuel Da Costa, é o conservador do
“Grand Organ of Sydney Town Haal”, que o tem mantido nas
melhores condições do seu característico e original
funcionamento, para servir com toda a satisfação as exigências
dos muitos organistas que o usavam para Recitais e outras funções. >
Assim
era eu conhecido por quem apreciava música para órgão, por
organistas e organeiros nacionais e estrangeiros que tocavam ou
visitavam aquele prestigioso e famoso instrumento, reconhecido
mundialmente pela sua grandiosidade e importância.
Pelo
facto da minha tão inesperada demissão sem que a Câmara de Sydney
desse qualquer conhecimento sobre as razões que me levaram a
fazê-lo, poderia não só pôr em causa o meu nome como também a
minha nacionalidade ou até comprometer o meu país de origem.
Em
face dessa desonrosa possibilidade, ingenuamente entendi dar
conhecimento da situação ao Cônsul Geral de Portugal em Sydney,
que por sua vez remeteu para o Embaixador em Canberra. O que então
escrevi, teria a finalidade de diplomaticamente fazer chegar ao
conhecimento de quem responsável no governo australiano, que
tratando-se de um instrumento relevante do Património Nacional,
este merecesse ser protegido, e portanto respeitado o seu histórico
valor.
Resultado:
Completo desinteresse, e nem sequer resposta foi dada! Assim é o
comportamento de uns quantos diplomatas portugueses no estrangeiro,
em relação aos assuntos ou problemas dos seus compatriotas
emigrados, que apenas são reconhecidos pelo envio das suas
poupanças para o país que os sustenta!
Manuel M.
Saraiva da Costa
Sydney, 31 de
Janeiro de 2018