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Sydney, N.S.W., Australia
Aos 12 anos de idade comecei como aprendiz com meu pai, na construção, reparação e afinação de Harmónios. Reparação e afinação de Pianos e Órgãos de Tubos. [instrumentos musicais] Aos 16 anos trabalhava por conta própria. Com 22 anos tinha a Carteira Profissional na especialidade de Rádio e Electrónica, que me permitiu trabalhar nos acordeões e órgãos electrónicos, amplificadores de som, e acumulei ao meu trabalho nos instrumentos, a manutenção do controlo electrónico das novas máquinas instaladas na “FACAR”, em Leça da Palmeira, Matosinhos. Aos 27 anos fui para a Holanda com uma bolsa de estudo onde me aperfeiçoei na Construção, Manutenção, Afinação e Restauro dos Órgãos Antigos ou Históricos. Trabalhei como Organeiro na Gulbenkian em Lisboa, de 1970 a 1974, e como Encarregado da Orquestra Gulbenkian, de 1974 a 1980. Em 1980 emigrei para trabalhar no restauro do "Sydney Town Hall Grand Organ". Em 1990 como "Mestre Organeiro" foi-me entregue, a conservação, manutenção e afinação daquele prestigioso Órgão, no qual trabalhei 31 anos, até me aposentar em 2011. com 72 anos de idade. Ver mais no meu CURRÍCULO.

Sunday, March 23, 2014

"A PROPÓSITO" I I



“A  PROPÓSITO”   a grande polémica sobre o Órgão  do Mosteiro de Lorvão

        

 
         [ Nova versão que foi publicada no Facebook em 23 de Março de 2014 ]


Quis eu mais uma vez debruçar-me sobre o que se passa (e se passou) depois da minha saída do país em 1980, e quando essa época foi aproveitada para toda a espécie de oportunismos.

Quero aqui referir especialmente à criação e formação de “mestres organeiros” que nem tempo tiveram para a sua aprendizagem, mas que se deram a conhecer como curiosos, habilidosos e autodidactas. Não sou eu que o afirmo, mas eles próprios o disseram.

Numa época propícia para o desenvolvimento de oportunidades para quem nunca trabalhou em certas profissões, neste caso em organaria, construção, reparação, manutenção e restauro de Órgãos de tubos, houve quem em poucos meses ou num par de anos, obtivessem esse pomposo título, que em Portugal é muito apreciado: Mestre !

Sem conhecimentos básicos, nunca anteriormente nesses instrumentos tendo trabalhado mesmo  até como aprendizes, sem qualquer escola na arte da organaria, rapidamente e em tempo sem precedentes, num tempo recorde, aí estão eles. Depois a sorte ou a ignorância de quem como eles tinham a mesma competência ou conhecimentos, trataria do resto.

Contrariando aquela expressão de “passar de 8 a 80”, estes autodidactas por exemplo, que desde o nada se tornaram mestres, passaram assim “de 0 a 100”! Como estes, também “consultores, conselheiros e especialistas” em organaria, se desenvolveram rápida e activamente na prática da mesma “arte”.
E assim se formaram “mestres e profissionais” em Portugal!

A “escola do oportunismo” em Portugal, ressurgiu mais sofisticada em relação àquela que já existia, no tempo em que os órgãos a restaurar estavam integrados num departamento que fazia parte dos Monumentos Nacionais, onde muitas “patifarias” haviam sido feitas com esses instrumentos, aprovadas e pagas por esse departamento estatal.
Um mal já antigo, que não merece por agora ser falado.

Nos anos 60, não havendo profissionais organeiros com competência e credibilidade, a Fundação Gulbenkian afim de dar prosseguimento a um projecto para restaurar os Órgãos de tubos Históricos em Portugal, decidiu investir com uma bolsa de 5 anos no estrangeiro para formar ou especializar alguém que já com prática e conhecimentos da arte, satisfizesse os requisitos desejados.

Esse alguém apareceu, alguns restauros e outros trabalhos de manutenção e afinação dos órgãos novos que através da Fundação tinham sido adquiridos, assim como daqueles já restaurados, foram feitos, mas as possibilidades cessaram em consequência duma política que veio a ser adoptada em 1974, quando iriam já ser restaurados os primeiros dois órgãos do Mosteiro de Mafra, imediatamente após o já restaurado órgão da Sé de Faro, cuja montagem tinha terminado exactamente naquele mês de Abril.

Na Gulbenkian a pessoa responsável pelo projecto foi saneada, e o organeiro obrigado a mudar de profissão para poder sobreviver.
O projecto foi cancelado, os subsídios para o efeito terminaram, e tudo o mais que se seguiu é já do conhecimento de muita gente.

Vim então para Sydney, convidado e depois contractado, por uma firma local de organaria que sabendo da minha situação em Portugal e conhecedora da minha aptidão profissional, informação dada pelo próprio Flentrop onde me havia especializado.

Não foi sem mágoa que deixei de pensar em voltar a Portugal para lá aplicar conhecimentos e prática que entretanto tinha acrescentado há já longa carreira de organeiro.
A situação de oportunismo continuava nesse meu país, enraizado e proliferando cada vez mais,
e eu não  iria adaptar-me em partilhar com  “organeiros” que já estavam envolvidos em problemas, não só provavelmente por questão de competência mas talvez por não saber “negociar”.

Vim para aqui como imigrado e posteriormente me nacionalizei, sem que tenha ou tivesse traído as minhas origens, pois embora naturalizado australiano nunca renunciei à terra em que nasci, sendo sempre português, quer por convicção quer pela lei da dupla nacionalidade.

                                            *      *      *    

Uma vez que me encontro aposentado, ao fim de 60 anos de trabalho, agora com mais tempo disponível, vou tentando manter e exercitar a minha memória, aproveitando as facilidades da Internet, o que me leva por vezes a encontrar novidades com interesse de foro profissional.
Como resultado, vou tendo conhecimento de notícias e comentários, por vezes nem sempre felizes ou agradáveis, incompreensíveis, até na maneira como funcionam “certos negócios” na terra que por “necessidade” tive de deixar.

Vou também relembrando alguns dos provérbios populares como: “Não suba o sapateiro além da chinela”, ou ”Gaba-te cesto, que vais à vindima”. Estes com pleno cabimento em alguns dos comentários encontrados, feitos por quem se quer considerar em Portugal, profissional idóneo na Genuína Arte do Restauro de Órgãos de tubos.

 

Vem a PROPÓSITO, o Órgão do Mosteiro do Lorvão, caso que tenho acompanhado ocasionalmente, e que se encontra em vias de ser inaugurado após um longo e conflituoso processo de restauro iniciado em 1995, por um dos mestres, que o terá desmontado para o seu previsto restauro, mas que acabará por ser um outro a concluir ao fim de quase duas décadas!
Entretanto, pelo que me foi dado saber, esse instrumento irá carecer da sua genuína originalidade, resultante até dos “trabalhos porque que passou". Quanto a qualidade e tipo de restauro, reservo também as minhas dúvidas.

Não direi que me surpreende, porque para mim estas coisas, já pouco me podem surpreender, desde que envolvam entidades estatuais ou governamentais, e dúvidas quanto às aptidões profissionais e morais de quem num processo como este, possa estar envolvido.

Não é minha intenção de com isto vir a ferir susceptibilidades de quem quer que seja que se possa sentir atingido, mas apenas manifestar o meu interesse e conhecimentos em defesa da Qualidade e Autenticidade dos Restauros nos ”indefesos” Órgãos Históricos, designadamente em Portugal.



Manuel M. Saraiva da Costa

Sydney, 25 de Fevereiro de 2014


Interessante notícia com comentário, que tendo chegada ao meu conhecimento, me proporcionou escrever esta crónica, se assim se pode chamar.
http://www.asbeiras.pt/2014/02/orgao-do-mosteiro-do-lorvao-volta-a-tocar-na-primavera/