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Sydney, N.S.W., Australia
Aos 12 anos de idade comecei como aprendiz com meu pai, na construção, reparação e afinação de Harmónios. Reparação e afinação de Pianos e Órgãos de Tubos. [instrumentos musicais] Aos 16 anos trabalhava por conta própria. Com 22 anos tinha a Carteira Profissional na especialidade de Rádio e Electrónica, que me permitiu trabalhar nos acordeões e órgãos electrónicos, amplificadores de som, e acumulei ao meu trabalho nos instrumentos, a manutenção do controlo electrónico das novas máquinas instaladas na “FACAR”, em Leça da Palmeira, Matosinhos. Aos 27 anos fui para a Holanda com uma bolsa de estudo onde me aperfeiçoei na Construção, Manutenção, Afinação e Restauro dos Órgãos Antigos ou Históricos. Trabalhei como Organeiro na Gulbenkian em Lisboa, de 1970 a 1974, e como Encarregado da Orquestra Gulbenkian, de 1974 a 1980. Em 1980 emigrei para trabalhar no restauro do "Sydney Town Hall Grand Organ". Em 1990 como "Mestre Organeiro" foi-me entregue, a conservação, manutenção e afinação daquele prestigioso Órgão, no qual trabalhei 31 anos, até me aposentar em 2011. com 72 anos de idade. Ver mais no meu CURRÍCULO.

Friday, November 15, 2013

ÓRGÃO DO GRANDE AUDITÓRIO DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN EM LISBOA.

Um dos meus trabalhos durante a minha especialização na Holanda, foi a construção deste órgão, responsável por todo o sistema eléctrico e por mim criado um novo processo de movimentação da Pedaleira (teclado para os pés).



          O QUE SE ENTENDE POR UM ÓRGÃO DE TUBOS

Com referência ao órgão do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que ajudei a construir e por mim ali foi instalado em 1969.

Um Órgão de Tubos, é um instrumento musical concebido para ser tocado em igrejas, salas de concertos, escolas ou residências, para uso público ou privado. Pode ser utilizado para solos, acompanhamento de vozes ou de outros instrumentos. Em Portugal alguns são datados desde os séculos XVI, e a sua origem data de muitos séculos anteriores. De forma alguma se poderá considerar ou comparar com “uma caixa cheia de tubos de metal ou de madeira”.
É um instrumento de teclado, um tanto complexo onde se encontram não só os tubos produtores do som, como outras grandes e pequenas peças de madeira e de metal, e alguns órgãos mais recentes, ainda com circuitos eléctricos. Sujeito a oxidação e a corrosão em partes metálicas, e sujeito a deterioração com o tempo e ambiente, a pele de procedência animal ou pele de carneiro; pelica, ou o que vulgarmente lhe chamam couro peliça, que é especialmente preparada para ser usada nos foles e noutras partes, e que são sensíveis ao meio demasiado húmido ou demasiado seco, e assim sujeitas à sua precoce decomposição.
A deterioração destas peles, oxidação e corrosão de metais poderá afectar severamente a funcionalidade e qualidade de um órgão de tubos, sendo as reparações a fazer para a sua substituição ou recuperação, bastantes dispendiosas.
Para evitar que estes instrumentos possam chegar a um mau estado de funcionamento e conservação, é necessária uma assistência especializada que não se resume somente à afinação, mas a ajustamentos mecânicos e por vezes de som, que deverá ser feita por um profissional organeiro, e não por qualquer curioso, sem que para o qual esteja competentemente habilitado. Infelizmente há quem se auto intitule de Mestre, e pior ainda, sejam assim reconhecidos por pessoas ou entidades incompetentes e ignorantes da arte da organaria.
Uma assistência inconsciente, feita irresponsavelmente por esses curiosos ou supostos profissionais, poderá causar males maiores e mais dispendiosos, arriscando a integridade do instrumento, e o seu carácter original sujeito a ser adulterado. O risco envolvido com uma limpeza que muitas das vezes seria desnecessária e portanto evitada, é sempre um factor a considerar. Sendo inevitável haver necessidade dessa limpeza, esta deverá unicamente ser efectuada por um profissional organeiro, ou por este dirigido. Não me quero referir apenas à afinação.
Cuidados para a sua preservação, devem ser tomados de forma a evitar ou minorar os riscos a que o instrumento possa estar sujeito, quando à sua volta possam haver trabalhos que o poderão arruinar. Será sempre mais conveniente, simples e menos dispendioso, evitar danos do que os remediar.

Vem a propósito o órgão no Grande Auditório da Gulbenkian em Lisboa, onde uma grande obra de beneficiação tem estado em curso, sem que esse instrumento tenha merecido os cuidados devidos, demonstrando a indiferença ou incompetência de quem deveria ser responsável pela sua eficiente protecção.
Pelo Facebook, no site da Fundação Calouste Gulbenkian, em 17 de Julho tomei conhecimento dessa obra que iria envolver, e de sobremaneira, o espaço onde se encontra instalado o órgão. Aproveitei a ocasião e fiz um comentário alertando para os cuidados a ter com o instrumento que estaria em risco de ser danificado, se não fossem tomadas providências para que devidamente fosse preservado. Esse “alerta” deve ter caído em saco roto!
Quando da minha passagem por Lisboa em Setembro, durante umas férias em Portugal, pedi a dois dos Serviços da Fundação se me poderia ser facilitada a visita ao local onde eu havia trabalhado, designadamente quando ali instalei o dito órgão. Por resposta foi-me dado a entender que não seria possível, alegando as obras em curso. Porém e através de outra via, tive a oportunidade de me ter sido dado acesso, que me permitiu presenciar o tratamento insólito a que o órgão estava a ser sujeito!
Encontrando-se no sob palco instalado num elevador, desprotegido e sujeito a toda a espécie de maus-tratos, como poeiras, excesso de humidade ou falta dela e não só, foi deixado à sua sorte para depois ser submetido a uma “limpeza geral”, como foi dito, sem terem a noção dos riscos que essa intervenção poderá representar para tão complexo e sensível instrumento.
Não conformado com o que vi, o órgão abandonado no meio daquelas obras, procurei saber quem seria o responsável, que neste caso classifico de irresponsável, que deveria estar encarregado de zelar pela preservação “dos bens alheios”. Neste caso, propriedade da Fundação, e em quem esta deveria ter confiado. Dirigi-me por e-mail à pessoa que se tinha dado por responsável daquela situação dando-lhe conhecimento da incúria cometida, advertindo-o também que já poderia ser muito tarde para remediar o mal consumado.

O que me foi respondido: "…foram, entretanto, com o apoio do mestre organeiro a quem habitualmente recorremos, melhorados alguns pormenores na sua preservação nesta fase de obra." 

Caso para dizer: “depois de casa roubada, trancas na porta”! A obra que há meses começara, e a fase referida encontrando-se a cerca de 2 a 3 meses da sua conclusão, segundo o que estaria previsto. Seria interessante saber se na realidade foi o “mestre organeiro” incumbido ou consultado para zelar pela preservação do instrumento, ou simplesmente por decisão de quem deverá responder por tão inconcebível negligência.
Quando um destes instrumentos estiver comprometido por um ambiente de obras com excesso de pó e sem controlo climático por algum tempo, semanas ou meses, deverá ter-se em conta a sua protecção, e para isso o envolvimento de um organeiro que tomará a responsabilidade pelos cuidados a ter com o seu isolamento, pressurização e climatização, para evitar a entrada de pó e controlar o excesso de humidade ou falta dela. Caso estes cuidados não sejam considerados, será um atentado à integridade e preservação desse instrumento, pela entidade ou pessoa que dessa obra estiver incumbida.
A dignidade e honestidade dum profissional organeiro, estará à prova quando este aceitar condições apenas por interesse pessoal e não profissional. Quero com isto dizer, que um organeiro que se digne e respeita a sua ética profissional, que seja a pessoa que tem tido a seu cuidado um órgão pelo qual é responsável, deve impor as suas condições e conselhos, no interesse da salvaguarda e integridade do que lhe é confiado, ou então renunciar a esse encargo.
Não é com uma posterior limpeza, que tal situação deve ser remediada, mas evitando que se chegue a esse ponto. Limpezas do interior dum órgão de tubos, tem riscos que poderão afectar a qualidade original do instrumento. Tal como numa pintura, deverão ser respeitadas as características originais do seu autor.
Este é o meu parecer ou ponto de vista, resultado da experiência e prática de muitos anos de trabalho como organeiro na Europa e na Austrália, antes e depois da minha especialização na Holanda, de 1966 a 1970, deixando de exercer essa actividade por renúncia e aposentação em 2011, com 72 anos de idade.
Digo renúncia, exactamente por não terem sido respeitadas as condições por mim impostas para a preservação e integridade do Grande Órgão do Town Hall de Sydney, onde trabalhei por 31 anos, 21 dos quais fui seu único e responsável conservador. Esse magnífico órgão estará a sofrer as consequências, devido a interesses pessoais e menos honestos, contrários à minha consciência e ética profissional.


Manuel M. Saraiva da Costa
De Sydney, a 19 de Outubro de 2013

Thursday, October 31, 2013

UMA OCASIÃO FELIZ



EM SYDNEY, PASSADO O DIA 30 DE OUTUBRO DE 2013, DIA DO 
MEU SEPTUAGÉSIMO-QUINTO ANIVERSÁRIO NATALÍCIO.


              AOS MEUS FAMILIARES E AMIGOS, PESSOAIS E VIRTUAIS

      É com grande satisfação e sensibilidade que apreciei a vossa simpatia e amizade, ao receber os Parabéns de todos vós, pela comemoração      dos ¾ de século da minha existência, tendo Deus permitido que tal acontecesse.

      Comecei por receber essas manifestações de amizade e carinho com alguma antecipação, e possivelmente ainda venham mais um quanto tardias, atendendo não somente às diferenças horárias. Umas pelo Facebook, outras por Skype, e-mail e até por telefone. Não só da Austrália   e Portugal, como de outras partes do mundo.

      Creio ter já respondido a agradecer individualmente a todas essas pessoas, que não serão esquecidas enquanto as minhas faculdades o permitirem. Encontro-me a 75 anos de altura, mas mais poderei subir até  “à queda que me está destinada”. Até lá, espero merecer e contar sempre com a vossa amizade e carinho com que me têm dispensado, procurando poder retribuir-lhes.

      A todos, um BEM-HAJA.

Manuel M. Saraiva da Costa



31 de Outubro de 2013

Sunday, July 28, 2013

EM VÉSPERAS DA IDA DE FÉRIAS, 2013




                              

                                    De um EMIGRANTE:  "OS DOIS IRMÃOS"!


É com imensa alegria e satisfação, o que sinto com esta viagem à minha terra natal, seja o Porto ou Portugal.

A expectativa de me encontrar com a família, e “Velhos e Novos Amigos”, é estimulante. Um encontro que infelizmente não tem sido mais frequente, devido não só à distância como outros compromissos e afazeres nesta minha nova terra, desde há mais de 33 anos, quase metade da minha existência.

Porém, torna-se também penoso ter de deixar este lugar, onde a família mais chegada e outros amigos, aqui ficam. Hoje mesmo me despedi daquele a quem tenho a agradecer a felicidade, o acolhimento e o sucesso nesta terra, pessoa com quem trabalhei, foi meu patrão, colega, e sobretudo um amigo de sempre, que conta agora 81 anos.

Como se tratando de dois irmãos, a despedida não foi fácil, mas a promessa de nos voltarmos a encontrar no regresso, se assim Deus quiser, deixa a esperança de conviver por mais algum tempo, enquanto vivermos.

É tão bom sentir a verdadeira existência de amizade, que se criou e permanece entre quem não se conheciam. Apenas 6 anos de diferença na idade, me faz considerar como sendo seu irmão mais novo, a quem devo a minha gratidão.

Assim é a vida de um Emigrante, que além da muita satisfação que possa sentir, terá de saber resistir às amarguras consequentes desta sua situação, mais ainda, quanto mais afastado da sua Pátria, é muitas das vezes incompreendida por aqueles que por esta situação nunca passaram

A quem nunca passou pela tão crítica experiência da Emigração, considerem que são devedores de respeito por aqueles que voluntária ou involuntariamente tiveram de emigrar, não só em seu próprio benefício, mas no do seu próprio País, quando preservam a sua dignidade pessoal e profissional, mantendo assim o bom nome e reputação das suas origens.

Sydney, 27 de Julho de 2013


Monday, June 10, 2013

DIA DE PORTUGAL






HOJE, 10 DE JUNHO DIA DE PORTUGAL,

                 DIA DA RAÇA OU DIA DE CAMÕES,




 

Deixo aqui um comentário sobre a Nossa Língua:

Não a nossa língua carnal, mas a Nossa Língua idioma que a Camões lhe é atribuído.


Fala-se em política governamental, sobretudo dos Partidos, do Governo e da crise que lhe é imputada, provocando desemprego, baixas nos rendimentos e reformas, aumento de impostos e horas de trabalho, etc. De tudo isto se culpa os governantes, porque só a nós não pode a culpa ser atribuída.

Porém não é só o País que economicamente está em crise, por depender não só do “Interior como do Exterior”, consequências difíceis de resolver, mas particularmente aquilo que sendo nosso, dependendo só de nós, que ninguém nos pode tirar sem o nosso consentimento e atitude de preservação, que nos enriquece e nos enobrece, que é A LÍNGUA PORTUGUESA.

Com esta preciosidade que possuímos, que é de cada um e de todos nós, parece não haver grande preocupação na sua defesa, no seu uso, e no respeito que deve merecer, mesmo comparando com a Bandeira que representa uma Nação.

Infelizmente são muitos os portugueses que a ignoram, desrespeitam e atraiçoam, dando preferência ao estrangeirismo, aplicando palavras “finas” com predominância inglesas, quando deveriam estar empenhados na Fidelidade merecida à única coisa que os dignariam em possuir e serem orgulhosos.

Se com aquilo que só de nós pode depender não nos preocupamos, defendemos e dermos o exemplo de respeito, PORQUÊ exigimos dos outros o que não somos capazes de o fazer, e só de nós pode depender?



Sydney, 10 de Junho de 2013

Sunday, March 31, 2013

Biografia e Currículo

 

BIOGRAFIA   &                            CURRÍCULO 

 


MANUEL MARIA SARAIVA DA COSTA, ORGANEIRO, nasceu em Portugal, na cidade do Porto, freguesia do Bonfim, em Outubro de 1938. 

Como aluno particular da Professora Aida Monteiro, em piano, preparou-se para entrar no Conservatório onde completou as disciplinas de Português, Solfejo, Composição, Acústica, História da Música, continuando com Piano e Clarinete. Foi colega, entre outros, de Joaquim Simões da Hora.

Enquanto frequentou o Conservatório de Música do Porto, trabalhou com o seu pai na fabricação, reparação e afinação de harmónios, desde os 12 anos de idade. A sua primeira ocupação, foram as afinações e reparações de pianos e órgãos de tubos.

Durante alguns anos, foi “organista” na Capela do Convento do Ferro, também conhecida por Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, mais tarde Patronato e Centro Social da Sé. Ali tocava harmónio acompanhando um coro de crianças, sob a direcção do então Coadjutor da Paróquia, Padre Manuel Pinto de Sousa. Foi ainda “organista” na Sé Catedral do Porto e Igreja de Santa Clara, quando nessa altura era Pároco o saudoso Padre Alcino de Azevedo. Tocou órgão também em diversas  igrejas.

Tendo seu pai falecido, aos 16 anos de idade teve de deixar o Conservatório, e dedicar-se inteiramente ao trabalho em pianos, harmónios e órgãos, que nessa época não era suficientemente remunerado. Olhando para o futuro, dedicou-se também ao estudo da electrónica, e com 22 anos possuía a Carteira Profissional, na especialidade de Rádio e Electrónica.

Veio a acumular, entretanto, ao seu trabalho regular, o de  manutenção do controlo electrónico das novas máquinas da FACAR em Leça da Palmeira -  Matosinhos, que era na época, a maior fábrica de tubos galvanizados e plásticos não só do país mas da Península Ibérica.
Em acumulação, dedicou-se à reparação de órgãos e outros instrumentos musicais electrónicos, em particular, para a Biblioteca Musical do Porto.


                                                      *   *   *   *   *    *

Sob a direcção da então Directora do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, Dra. Maria Madalena Perdigão, foi programado o restauro dos órgãos históricos de Portugal, tendo como consultante o Dr. M. A. Vente, de Utrecht - Holanda.

Os instrumentos depois de desmontados em Portugal, eram transportados para Holanda para restauro. Tal prática, entretanto, por iniciativa da Dra. Maria Madalena Perdigão foi reavaliada e os restauros em causa deixariam de ser realizados no estrangeiro, logo que para isso houvesse alguém habilitado em Portugal.

É na concretização deste projecto que é concedida ao signatário uma Bolsa de Estudo por cinco anos a quem tivesse uma preparação base que oferecesse garantia de um resultado fiável. As condições impostas e prometidas eram, no final da Bolsa, o organeiro / bolseiro ser integrado na Fundação, ou montar a sua própria empresa, para dar seguimento a esse projecto.

Além dos Órgãos restaurados e a restaurar, haviam também os novos órgãos adquiridos e a adquirir pela própria Fundação, ou com a sua comparticipação.

Em 1965 essa Bolsa foi concedida a Manuel Maria Saraiva da Costa, então com 27 anos de idade, para seu aperfeiçoamento na técnica de Organaria. Isto é, na construção, reparação, manutenção, afinação, intonação, e principalmente no restauro de Órgãos de Tubos antigos ou históricos em Portugal.

O período de 1966 a 1970, foi o de aperfeiçoamento profissional numa fábrica de Órgãos de reputação internacional Flentrop Orgelbouw, em Zaandam - Holanda, onde ganhou bastante experiência  em todas as áreas dessa arte ou indústria, estando incluído trabalhos em madeira, metal, fabrico de tubos para órgãos, consolas mecânicas, montagem de órgãos, sonoridade e afinação. Além de órgãos de acção mecânica, também os de acção pneumática e eléctrica.

Durante esse período na Holanda, esteve envolvido na construção e montagem do Grande Órgão na Sala de Concertos "De Doelen" em Rotterdam - Holanda, um dos maiores órgãos de tubos,  fabricado na fábrica Flentrop. Teve parte importante  na construção do órgão que se encontra no palco do Grande  Auditório da Gulbenkian, que por ele foi instalado num elevador, e é recolhido no sub-palco, vindo à superfície quando necessário para concertos e acompanhamento de orquestra e coro.

Fez também trabalho de restauro em órgãos históricos holandeses, com relevância o de Oosthuizen (1521) e outros. Em órgãos portugueses, nomeadamente com particular relevo o da Sé Catedral de Évora (1562), e em dois órgãos da Sé Catedral do Porto (séculos XVII e XIX).


                                                        *    *    *    *    *    *

Em 1970, depois de concluída a sua especialização, ingressou na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, como funcionário do Serviço de Música, acumulando as funções de Organeiro e Encarregado da Orquestra Gulbenkian.

Como Organeiro, trabalhou no restauro do Órgão da Capela da Universidade de Coimbra, e no Órgão da Sé Catedral de Faro, bem como na manutenção e afinação de todos os órgãos novos e restaurados, até ao período da Revolução em Portugal de 25 de Abril de 1974.

Por conta própria fez, entretanto, outros trabalhos de manutenção e afinação em Lisboa, Mafra, Fátima, Viseu e Porto. Durante essa ocasião, entre outros organistas conheceu Antoine Sibertin-Blanc, organista titular da Sé de Lisboa, e Gertrud Mersiovsky,  professora de órgão no Conservatório Nacional em Lisboa, e actualmente a residir no Brasil.

Em Maio de 1974, após terminados os trabalhos no órgão da Sé de Faro, estava encarregado da desmontagem de dois dos seis órgãos do Convento de Mafra, que por motivo da situação seguida à revolução, esse trabalho assim como todos os trabalhos de restauro previamente programados pela Gulbenkian, foram cancelados.

A sua função de organeiro na Fundação ficou suspensa por deliberação de “uma Comissão de Trabalhadores” e o consentimento da Administração, com o argumento de que não poderia exercer duas funções: a de Organeiro, e a de Encarregado da Orquestra!

Desde 1974 a 1980, passou a exercer unicamente e a tempo inteiro a função de Encarregado da Orquestra, que o levou a viajar com ela de Norte a Sul do país, Madeira, Açores, Angola, Moçambique e outros países de África, Europa e União Soviética.

Em 1979, já sem esperanças de poder continuar a trabalhar na sua profissão de Organeiro, por deixar de haver subsídios para a continuação do referido projecto, sentindo-se enganado e frustrado, decidiu deixar a Fundação oferecendo o seu trabalho a outro país que o quisesse receber, aproveitando os seus conhecimentos e experiência profissional, tendo a sua oferta sido aceite de imediato pela Austrália.

                                                      *     *     *     *     *    *                        

Em 1980, com uma licença sem vencimento, recomeçou o seu trabalho profissional de organeiro no restauro do “Sydney Town Hall Grand Organ”, convidado por Roger H. Pogson, uma firma australiana conceituada na construção de Órgãos de Tubos, que foi responsável por este grande restauro.
Este restauro viria a terminar dois anos depois, e Manuel da Costa estaria disposto a regressar à Gulbenkian para continuar ali o seu trabalho como Organeiro, caso esta estivesse interessada.

Antes de terminar a licença que lhe havia sido concedida, pediu à Fundação a prorrogação da mesma licença por mais um ano, a fim de recuperar na Austrália todo o tempo que em Portugal teria perdido, entre 1974 e 1980. O seu pedido foi recusado, e de seguida a mesma Fundação dá outra Bolsa de Estudo, esta por um ano, para “formar e especializar um novo organeiro”!

Manuel da Costa trabalhou nesta firma durante 6 anos, e mais 4 anos para outra firma,  Pitcheford & Garside, na reconstrução e restauro de reconhecida qualidade nos órgãos históricos de: 
                                                                    

*    Saint Paul's Lutheran Church, Sydney  - 1887,  E. F. Walcker & Co. ( Germany )

*    All Saints Church, Woollahra, Sydney  - 1882, Forster & Andrews  (Hull,UK9 )  
 
*    All Saints Church, Ainslie, Canberra, ACT - 1857, Bishop & Starr (London, UK)

*    Holy Trinity Church, Kingsford, Sydney  - c.1875, Gray & Davidson (London UK)


Esteve também envolvido em Sydney, no restauro e montagem dos órgãos da Capela e Cinema, no novo edifício da Wesley Mission na Pitt Street, na manutenção e afinação dos órgãos da Catedral Anglicana de Saint Andrew's e Universidade de Sydney, além de outros em New South Wales,  Canberra e  Melbourne.

                                                *    *    *    *    *     *

Em 1990, começou a trabalhar por sua conta, quando teve o privilégio de lhe ser oferecida pela Câmara de Sydney, a posição de Organeiro responsável pela conservação, manutenção e afinação do Grande Órgão do Town Hall de Sydney, que quando foi construído em Inglaterra nos anos 1888/1890, era considerado o maior do mundo. Actualmente, e no seu género, é o maior do Hemisfério Sul, conhecido e apreciado mundialmente.
A ocupação  desse  lugar  de  relevo, que lhe deu nome e prestígio internacionalmente, viria  a  ser  invejado  por  alguns  colegas organeiros australianos.
       
Teve a  seu  cargo  também  a  manutenção  e afinação  de  órgãos em  igrejas,  tanto Católicas  como  Anglicanas, Presbyterianas, Uniting e Luterana.  Escolas como: Knox Grammar  School, Abbotsleigh  Girls School, King's  School, Sydney Grammar School,   Canberra   Church  of  England Girls' Grammar School,  Saint  Paul's College na Universidade  de  Sydney, Newington  College, Powerhouse Museum, e Newcastle Conservatorium. 
Foi também convidado a tomar conta da manutenção do órgão da Opera House, tendo-se recusado por uma questão de ética profissional.

Fez  afinações  para  concertos e gravação de discos,  para a ABC Clássic FM. Australia Broadcasting Corporation,  e para outras entidades como:  Sydney Philharmonia Choirs,  Sydney  Symphony Orchestra,  Sydney Chamber Choir.  Cantillation, Musica Viva e outras, na Opera House, City Recital Hall e outros locais.

Em 2000, foi-lhe entregue a manutenção e afinação do Novo Órgão na St. Mary's Cathedral, Sydney, pois já ali fazia a manutenção do Órgão da Capela-Mor, e em  2004, outro Novo Órgão na Sydney Grammar School.

Por motivo de compromissos de ordem familiar, em Setembro de 2002, reduziu o seu tempo laboral para 3 dias semanais, recusando novas ofertas de trabalho, com excepção da Sydney Grammar, que era já seu cliente.

O seu último trabalho de restauro, em 2007, foi o de:

*   St. John’s Anglican Church, Camden, NSW – 1861, T.P. Bates, (London, UK)

Durante todo o tempo em que trabalhou por conta própria, independente ou autónomo, sem nunca ter necessidade de publicidade e de mais trabalho, uma vez que a sua reputação era já conhecida e apreciada. Nunca se quis associar a qualquer organização nacional ou internacional de organaria.

Tentando encontrar alguém apto e interessado em fazer um estágio na Austrália, prevendo a possibilidade de se preparar para o suceder na manutenção do “Grand Organ”, em Março de 2008 escreve por e-mail a diversas entidades em Portugal, sem que tivesse obtido qualquer resposta.

Em Fevereiro de 2011, decidiu aposentar-se com 72 anos de idade, renunciando à sua carreira de organeiro, e de responsável pelo “Grand Organ of Sydney Town Hall” durante os últimos 21 anos, estando em causa uma proposta desonesta da Câmara de Sydney, na qual não se deixou manipular por se encontrar envolvida a integridade do instrumento, e a sua reputação profissional.
Para essa decisão contribuiu também a falta de cooperação de alguns organistas locais, e especialmente a indiferença das entidades que deveriam zelar pelo património histórico australiano, em proveito de interesses pessoais.
A incúria da Igreja Católica em Sydney, para a qual muitos anos trabalhou, teve também a sua quota-parte.

Tem só a lamentar o facto de não lhe ter sido dada a oportunidade de deixar alguém que com profissionalismo, competência e honestidade, que tivesse a capacidade de continuar com a mesma eficiência o trabalho a que sempre se dedicou, e que sempre lhe foi reconhecido.

Completando 60 anos de trabalho honesto, dedicado e responsável, seria tempo para descansar e dedicar-se à família.

                                                  Aditamento

Manuel da Costa chegou a Sydney no dia 9 de Fevereiro de 1980 sem a companhia da família. Esta viria a juntar-se-lhe em 2 de Julho seguinte. A esposa, duas filhas de 17 e 12 anos, e um filho com 5 anos.
As duas filhas, formaram-se na Universidade de Sydney, em Medicina, e em Direito. O filho, formou-se em Ciências e Informática, na Universidade de New South Wales.       
Todos casados, tendo a primeira duas meninas com 19 e 17 anos, a segunda um menino de 12 anos, mais um menino e duas meninas trigémeos, com 10 anos. O filho que saiu da Austrália para a Inglaterra, onde ali trabalhou durante 4 anos, e de lá para a Suíça onde se encontra há 10 anos, tem um menino com 6 anos e uma menina de 3 anos.

Com uma longa experiência e escola profissional, não simplesmente um habilidoso, curioso ou autodidacta, Manuel da Costa veio a ser seleccionado pela Fundação Gulbenkian, para nele investir uma longa e dispendiosa bolsa de estudo.

Com a situação seguida ao 25 de Abril, que também abalou a política interna da Fundação, e ao qual não foi também estranha uma determinada atitude de um dos Administradores, o investimento feito com a formação do então único Organeiro português qualificado, foi completamente desaproveitado no seu país.

Isto não teria acontecido no tempo da Dra. Maria Madalena Azeredo Perdigão, por quem a sua lealdade, dedicação e profissionalismo, sempre foi reconhecido e apreciado.
 
Naturalizou-se Australiano em 1996, como reconhecimento ao País que o acolheu e o estima, dando-lhe o valor que merece, ao contrário do seu próprio País de origem que apenas lhe deu um lugar que não era aquele para o qual o tinham preparado, e por fim o abandonou.

                                                     Anotações
 
O seu primeiro contacto com portugueses, por recomendação em Lisboa, foi com a Capelania Católica Portuguesa em Sydney, sendo o Capelão o Padre António Marques, que muito o ajudou na integração do sistema de vida local, e com quem conviveu nos primeiros dois anos. Este veio a ser substituído por um outro dois anos depois. Presentemente o Padre António Marques encontra-se em Alfeizeirão – Portugal.

Durante os primeiros 12 anos, Manuel da Costa foi “organista” da Comunidade Portuguesa em Sydney, deixando essa função devido à atitude de prepotência inadmissível do então e actual Capelão, que viria a estar envolvido num caso menos claro sobre a oferta à Comunidade Católica Portuguesa em Enmore, Sydney,  de um órgão de tubos  o  qual  nunca foi nem viria a ser propriedade  da Comunidade,  tendo esta entretanto dispendido avultados fundos para o seu restauro, sua adaptação e instalação.                                          
                               
                                                 Agradecimentos

Ao  organeiro  australiano, Mr.  Roger  H.  Pogson,  profissional  de  mérito,  construtor de vários órgãos  de qualidade  reconhecida,  e  responsável  pela  grande  obra de restauro  do  Grande  Órgão  de  Sydney Town Hall,  Manuel da Costa  deve a sua vinda para Austrália.
A sua camaradagem como patrão e colega, que nunca lhe faltou com o seu apoio quando trabalhou como seu empregado, e quando começou a trabalhar por conta própria, merece todo o seu reconhecimento e consideração.

Ao seu segundo patrão, Mr. Stuart Garside,  da firma  “Pitcheford & Garside”,  infelizmente falecido há poucos anos, deve também o reconhecimento que ele teve pelo seu trabalho, não só como empregado mas como colega, vindo a procurar a sua colaboração já depois  de  ter deixado a sua firma.

Ao  “City Organist”  Mr. Robert  Ampt,  tem a agradecer todo  o seu apoio,  confiança e reconhecimento de todo o trabalho de conservação, (manutenção e afinação), do “Grand Organ”.

Ao Principal e Titular Organista da Catedral de Santa Maria em Sydney, Mr. Peter Kneeshaw, não poderá ser esquecido e também deixar de ser agradecido todo o seu apoio, estima e reconhecimento profissional, ao longo de todos os trabalhos  por ele recomendados e assistidos.

Em Geral,  a todos os clientes  que durante muitos anos mantiveram  a sua confiança e lealdade  na  base  da honestidade, dedicação  e  competência  profissional. 
                                                                                                           
                                                   Informação

Nota: Um livro, “THE SYDNEY TOWN HALL ORGAN” da autoria de Robert Ampt, City Organista, foi publicado em 1999, onde se fala do Organeiro Manuel da Costa, nascido em Portugal. Publicado por “Birralee Publishing”, 11 Appian Way,  Woodford  NSW  2778  Austrália

Outro livro, “ENTRE VISTAS” da autoria de Marcial Alves, (Lisboa) Edição apoiada pelas Comunidades Portuguesas, Fundação Oriente e outros, fala também de Manuel Saraiva da Costa, organeiro imigrado na Austrália.

O Jornal “The Sydney Morning Herald”, publicou a sua fotografia e comentário, (MANUEL DA COSTA CLEANS THE TOWN HALL ORGAN WHICH HAS BEEN RESTORED, 92010/24#21 PETER RAE – SME Sydney Morning Herald)  assim como outros jornais, incluindo “O Português na Austrália” em Sydney.

No Magazine, Issue #46 de Fevereiro 2007 do “The Sydney Morning Herald”, outra fotografia com comentário, em referência ao” órgão mais impressivo de Sydney, senão do mundo”.

“The Sydney Morning Herald” em 5 de Setembro de 2009, nova fotografia com referência à procura de um substituto de Manuel da Costa.
Jornal O Emigrante / Mundo Português, de 18 de Março de 2011, publica um artigo referindo-se ao organeiro português que procura seu substituto.

Em 1 de Julho de 2010, foi apresentada pela RTP Internacional, no programa Magazine Austrália Contacto, uma entrevista feita a Manuel da Costa e o Órgão do “Sydney Town Hall”, com um comentário feito pelo “City Organist”. Apenas há a lamentar que nesse programa não fosse apresentada toda a entrevista feita, e que esta não cobrisse toda a sua carreira profissional na Austrália.




Sydney, 29 de Março de 2013





Monday, March 25, 2013

Solenidades da Semana Santa



25-3-2013



                                QUINTA-FEIRA SANTA, 1977 ou 78.

Estava programado e já anunciado publicamente com semanas de antecedência, um Concerto a ser realizado no Mosteiro da Batalha, com a Orquestra e Coro Gulbenkian, cujo programa se integrava nas solenidades da “Semana Santa”.

Na Igreja do Mosteiro teria de ser montada uma bancada, ou estrado apropriado para a acomodação do Coro, o estrado para o Maestro, cadeiras e estantes para a Orquestra, assim como um  sistema  portátil de iluminação.

Esta montagem teria de ser feita no mesmo dia do Concerto, e desmontada logo após este ter terminado, afim de deixar lugar para as cerimónias do dia seguinte, Sexta-feira Santa. O retorno de todo o material poderia ser feito na semana seguinte.

Todo esse equipamento teria de ser transportado das instalações da Fundação, e os “técnicos”, 2 ou 3 carpinteiros com os seus ajudantes, trabalhadores da Fundação e que habitualmente faziam esse trabalho de montagem e desmontagem, deveriam deslocar-se para esse efeito, sendo-lhes pagas ajudas de custo, refeições e horas extraordinárias.

A Orquestra e o Coro sairiam de Lisboa logo após o almoço, para terem um ensaio de colocação cerca das 3 horas da tarde, e à noite o Concerto. Pelas 7 horas da manhã, uma camioneta com dois ajudantes transportaria todo o material, assim como as 3 caixas com Tímpanos e os Contrabaixos, que devido ao seu volume não iam no autocarro juntamente com a Orquestra. 

Na véspera desse dia, Quarta-feira, os trabalhadores dão conhecimento ao Serviço de Música, departamento responsável pela realização do Concerto, que decidiam não trabalhar na Quinta-feira Santa por ser feriado, e como tal lhes assistia o direito a dia de descanso, conferido pelo Sindicato!

Perante tal decisão, o Concerto teria de ser cancelado à última da hora, com todas as inconveniências por falta de tempo para dar conhecimento ao público, e para as 150 pessoas da Orquestra e Coro, para não falar de todas as despesas envolvidas e da reputação da própria Gulbenkian!

Toda uma situação resultante da falta de profissionalismo, apoiados ou instigados pela prepotência ou determinação de poder dos Sindicatos Progressistas.

Entre o dilema do cancelamento do Concerto com todas as consequências implicadas, e tomar uma atitude que resolvesse essa crítica situação, fui junto do então Director do Serviço, este numa situação bastante embaraçosa com o acontecimento, e comprometi-me a viabilizar aquele concerto, tomando a responsabilidade de organizar com a Câmara da Batalha o transporte e ajuda de pessoal para a carga e descarga de todo o material, da Fundação para o Mosteiro.

Com a colaboração do pessoal camarário, uma camioneta com alguns homens, e a ajuda de dois dos serventes já acostumados à montagem daquela bancada para o Coro, pus-me a fazer aquilo que na Holanda tinha também aprendido: trabalhar lado a lado com aqueles homens, sem preconceitos sociais ou profissionais, carregando ferro e madeira, dando o exemplo e o estímulo, que resultou num sucesso, tendo o Concerto sido realizado ao agrado do público, e sobretudo de quem trabalhou para que tal tivesse sido possível.

Tenho as minhas dúvidas que esta história possa fazer parte do arquivo do Serviço de Música, ou da Fundação Calouste Gulbenkian, mas creio existir ainda quem se possa recordar, e espero que acontecimentos desagradáveis como este, nunca tivesse voltado ou volte a acontecer.

O então Encarregado da Orquestra Gulbenkian até 1980, Manuel SARAIVA DA COSTA.

Manuel da Costa
Sydney, 25 de Março de 2013

Sunday, March 24, 2013

"A FALAR E ESCREVER...' Capítulo VII



 25-3-2913

 CAP.  V II
                                  "A FALAR E ESCREVER, NOS PODEREMOS ENTENDER"

                 A PROPÓSITO DO ÓRGÃO NO GRANDE AUDITÓRIO DA GULBENKIAN

                        AUTOPROMOSSÕES  APÓS O DIA DO OPORTUNISTA EM 1974

Como empregado da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e ainda como organeiro, embora “proibido” de exercer essa função por decisão da “Comissão de Trabalhadores” e consentido pela Administração, como já o terei dito, tive de assistir impávido e sereno a uma “autopromoção profissional” de um outro também empregado, este com funções de chefia, que se achou no direito de “usar a foice em seara alheia”, conforme o dito popular.

Devido ao movimento do elevador onde o órgão se encontra instalado, um dos tubos da frente, em cobre, se teria desprendido do seu lugar, tendo caído ficou ligeiramente danificado. Foi esta a versão corrente, embora a considerasse suspeita.

Qual não foi o meu espanto, ao ver esse tubo nas mão de dois serventes acompanhado por esse “colega”, ser levado para a oficina de manutenção e ser ali “reparado” por outro “profissional”, que muito convencidamente fez o seu trabalho de soldador, voltando esse tubo pelo mesmo “caminho” a ser colocado no seu lugar!

Limitando-me às condições que me eram impostas, tive de “ver, ouvir e calar”. Assim era o sistema e a “democracia” de cada um ter a liberdade de fazer o que entendia, mesmo sem nada entender!

Saturday, March 9, 2013

ODISSEIA EM MACAU, 1996



MAIS UMA HISTÓRIA SOBRE A ODISSEIA EM MACAU, 1996

Da Índia, eu e minha esposa, depois de ter deixado Goa, Damão e Bombaim, modernamente chamado Mumbai, seguimos para Macau, no regresso a Sydney, Austrália.

O Aeroporto de Macau ainda não existia, e o avião deixou-nos em Hong Kong, onde tencionava-mos estar um par de dias antes de ir para Macau, o que só se fez no regresso. Porque ainda era relativamente cedo e a luz do dia se prolongaria por mais umas horas, fomos directamente para o cais de embarque, onde fizemos a reserva do hotel em Macau, e poucos minutos depois tomamos o barco.

Ao desembarcar no cais de Macau, “Território com Administração Portuguesa”, como o diziam, tivemos a primeira grande decepção porque enquanto toda a propaganda turística estava escrita em português, ninguém ali falava esse idioma, começando pelas autoridades de controlo de passaportes e oficiais alfandegários, que deveriam ser “portugueses”.
Já anteriormente, aqui comentei este caso.

Apanhamos um Táxi, as malas foram para a bagageira e entramos pretendendo seguir para o hotel. Entreguei ao taxista o documento da reserva feita e paga onde constava a direcção do hotel, mas o taxista apenas falava (não sei se saberia ler) chinês e o documento estava escrito em inglês. O homem incapaz de saber para onde nos havia de levar, à viva força queria que saíssemos do carro com a bagagem, ao qual eu me recusei.

Depois de diversas tentativas do motorista através de comunicação via rádio com a central dos Táxis sem ter tido sucesso, passou-me o microfone para eu falar e tentar resolver a questão. Senti-me um pouco mais aliviado com aquela iniciativa, e dei o nome e endereço do hotel em inglês e português, mas incapaz de o fazer em chinês. Do outro lado, tudo que eu conseguia entender, era que me deveriam estar a falar em chinês, pois os sons eram semelhantes, e a situação ficou por resolver.
O pobre do taxista, por gestos, insistia que nós o deixasse-mos para atender outros clientes chineses, mas eu já estava decidido a não sair do Táxi a não ser à porta do hotel.

Passados uns 15 minutos naquele impasse, algo deve ter brilhado na cabeça do taxista:
com o papel na mão, foi ter com um motorista dum autocarro de turismo, e quando voltou, sorridente e satisfeito, leva-nos para o hotel que ficava no dobrar da esquina, a cerca de 200 metros do cais e ponto de partida.

Depois de acomodados, e quase 10 horas da noite, saímos para jantar num dos muitos restaurantes cerca do hotel. Nova dificuldade: tudo estava escrito em chinês. Nada em inglês e muito menos em português. O que se entendia eram apenas os algarismos! Quis pedir informação a um agente de PSP que policiava o local, que logo me respondeu antes de virar as costas: “mim não falar português”.
Um escoteiro com os seus 12 anos de idade, tendo na farda o emblema português e a palavra PORTUGAL, falava somente chinês. A nossa sorte, que nos permitiu enganar o estômago, foi encontrar o McDonald’s que já estava a fechar, e os dois últimos hambúrgueres que ali estavam expostos, foi como o maná no deserto.

No dia seguinte encontramos um restaurante com uma tabuleta tendo o nome do proprietário escrito em português, e o reclame que dizia ”Serve-se arroz frito à portuguesa”. Entramos, deram-nos o menu onde “ainda em português” e chinês, constavam os pratos que serviam, mas quando quis fazer o pedido, as três moças que dirigiam o restaurante, nada entendiam do que dizia-mos, nem nós conseguimos fazer-nos entender.

Valeu-nos uma jovem chinesa que estava a jantar, que dando conta do que se passava, levantou-se da sua mesa, veio junto de nós oferecendo a sua ajuda, bem preciosa, falando em perfeito português, o que então nos surpreendeu. 
A partir dessa ocasião, nos dias que se seguiram passamos a comer as refeições no hotel,

Como turistas que éramos, com roupa de verão e em calções, num dia de calor, caminhava-mos pela cidade quando ouvimos duas senhoras muitíssimo bem vestidas, provavelmente “da fina-flor portuguesa ali residente” a conversarem em português. Logo me aproximei, cumprimentei-as, e para meu espanto, fui olhado com certo ar de superioridade e desdém, perguntando-me o que eu pretendia delas. Perante tal snobismo e sumptuosidade, pedi desculpa e seguimos o nosso caminho!

Mais tarde encontramos então outro indivíduo que bastante alcoolizado que ia a cantar o fado, rua abaixo; Na livraria portuguesa, ouvimos mais alguém falando a Língua de Camões, e entre eles um sujeito já de certa idade, que proclamava ser um português exilado político do anterior regime de Salazar, e que ali vivia há muitos anos. Pelos vistos era já uma figura carismática de Macau, pois parecia ser conhecido por toda aquela gente ali presente; no único Domingo que lá estivemos, fomos assistir à Missa na Sé, em português, celebrada por padres chineses, e onde encontramos alguns portugueses europeus, entre eles outra senhora que nos deu a conhecer um pouco sobre a vida em Macau, sobretudo da presunção de alguns dos portugueses que mais recentemente para lá tinham ido, e um cavalheiro que se prontificou naquela tarde a mostrar um pouco mais daquilo que ainda não havia-mos visto.

Foi então que nessa segunda-feira seguinte, se passou o acontecimento também aqui anteriormente comentado, de como fomos recebidos no Centro de Informação de Turismo de Macau, pela única pessoa que falava português, que por sorte ali tinha chegado na semana anterior. De outra forma teríamos mais uma contrariedade pela frente.

Assim acabo de contar mais um e último episódio da Surpreendente e Decepcionante Odisseia em Macau, terra que se dizia Portuguesa.


Nota: O que aqui está escrito, não pretende obedecer à “moderna ortografia brasileira”

Manuel da Costa

Sydney,  5-1-2013

Azeite da "apotheek" em 1966



NA HOLANDA HÁ 47 ANOS ATRÁS.

No jornal local que semanalmente é distribuído aqui  em Sydney gratuitamente de porta em porta, com notícias e publicidade comercial, desde venda de casas, carros e outras mercadorias diversas, entre elas farmacêuticas fazendo propaganda de artigos de beleza, vitaminas, medicamentos, etc., uma Farmácia anuncia a venda de azeite de oliveira em latas de 4 litros!

Nada de especial este anúncio de promoção, a não ser uma Farmácia vender latas de 4 litros de azeite. Talvez para muita gente possa já ser normal, mas para outra pode torna-se um pouco invulgar tratando-se de uma Farmácia e não de uma mercearia ou supermercado.

ISTO VEM A PROPÓSITO DO QUE SE PASSOU COMIGO NA HOLANDA HÁ 47 ANOS ATRÁS.

Uma pequena história sobre um acontecimento que na altura me surpreendeu, e que nos dias de hoje é apenas banal. 

Estava eu pela primeira vez fora do meu país, lidando com um idioma para mim desconhecido e costumes diferentes. A convivência com pessoas desconhecidas, e sobretudo, a alimentação confeccionada diferentemente daquela a que estava habituado.

Nos primeiros tempos, o ter de comer sanduíches com recheio de pastas e outros ingredientes a que não estava habituado, foi para mim bastante penoso.
Logo que consegui fazer-me entender e ser entendido pela minha hospedeira, senhora holandesa já de certa idade, convenci-a a que me cozinhasse arroz como base das refeições.

Acontece que além das sanduíches passei a comer arroz branco, cozido sem sal e sem qualquer paladar, quase todos os dias durante umas semanas. Claro que acompanhado com molhos, carne, vegetais e outros “acompanhamentos”.
Decidi então pedir-lhe que me deixasse cozinhar o arroz da maneira a que estava habituado, ou seja, com o respectivo refogado, e que para isso teria de ter cebolas e azeite.

No dia seguinte, ela apresentou-me uma cebola e um frasco com 100 ml de azeite puro de oliveira, mas disse-me logo que tinha ficado muito caro, e ter tido dificuldade em o encontrar, o que só conseguiu na Farmácia onde era cliente!

Posteriormente, e tendo a informação de outros portugueses ali imigrados, comprei numa loja espanhola, uma garrafa de 1 litro por menos de metade do preço que havia custado na Farmácia os 100 ml.

A partir daí, a senhora aprendeu e gostou de cozinhar o arroz frito, só que teria de se habituar ao cheiro do estrugido, ao qual não estava acostumada e que possivelmente iria incomodar também a vizinhança. Mas poucos dias depois, ela e as amigas já cozinhavam o arroz frito, concordando que na realidade era mais gostoso!

Daí em diante já me sentia mais satisfeito quando tinha de comer batatas cosidas com arroz, feijão de lata com arroz, vegetais com arroz e com tudo o menos convencional, mas acompanhado do arroz “à minha maneira”.

Esta experiência por que passei, com muita “lazeira” à mistura durante os primeiros três meses, fez-me “engordar” mais 4 quilos, mas à custa de 1,5 litros de leite com chocolate que eu bebia diariamente.

Sydney, 14-5-2012