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Sydney, N.S.W., Australia
Aos 12 anos de idade comecei como aprendiz com meu pai, na construção, reparação e afinação de Harmónios. Reparação e afinação de Pianos e Órgãos de Tubos. [instrumentos musicais] Aos 16 anos trabalhava por conta própria. Com 22 anos tinha a Carteira Profissional na especialidade de Rádio e Electrónica, que me permitiu trabalhar nos acordeões e órgãos electrónicos, amplificadores de som, e acumulei ao meu trabalho nos instrumentos, a manutenção do controlo electrónico das novas máquinas instaladas na “FACAR”, em Leça da Palmeira, Matosinhos. Aos 27 anos fui para a Holanda com uma bolsa de estudo onde me aperfeiçoei na Construção, Manutenção, Afinação e Restauro dos Órgãos Antigos ou Históricos. Trabalhei como Organeiro na Gulbenkian em Lisboa, de 1970 a 1974, e como Encarregado da Orquestra Gulbenkian, de 1974 a 1980. Em 1980 emigrei para trabalhar no restauro do "Sydney Town Hall Grand Organ". Em 1990 como "Mestre Organeiro" foi-me entregue, a conservação, manutenção e afinação daquele prestigioso Órgão, no qual trabalhei 31 anos, até me aposentar em 2011. com 72 anos de idade. Ver mais no meu CURRÍCULO.

Saturday, March 9, 2013

ODISSEIA EM MACAU, 1996



MAIS UMA HISTÓRIA SOBRE A ODISSEIA EM MACAU, 1996

Da Índia, eu e minha esposa, depois de ter deixado Goa, Damão e Bombaim, modernamente chamado Mumbai, seguimos para Macau, no regresso a Sydney, Austrália.

O Aeroporto de Macau ainda não existia, e o avião deixou-nos em Hong Kong, onde tencionava-mos estar um par de dias antes de ir para Macau, o que só se fez no regresso. Porque ainda era relativamente cedo e a luz do dia se prolongaria por mais umas horas, fomos directamente para o cais de embarque, onde fizemos a reserva do hotel em Macau, e poucos minutos depois tomamos o barco.

Ao desembarcar no cais de Macau, “Território com Administração Portuguesa”, como o diziam, tivemos a primeira grande decepção porque enquanto toda a propaganda turística estava escrita em português, ninguém ali falava esse idioma, começando pelas autoridades de controlo de passaportes e oficiais alfandegários, que deveriam ser “portugueses”.
Já anteriormente, aqui comentei este caso.

Apanhamos um Táxi, as malas foram para a bagageira e entramos pretendendo seguir para o hotel. Entreguei ao taxista o documento da reserva feita e paga onde constava a direcção do hotel, mas o taxista apenas falava (não sei se saberia ler) chinês e o documento estava escrito em inglês. O homem incapaz de saber para onde nos havia de levar, à viva força queria que saíssemos do carro com a bagagem, ao qual eu me recusei.

Depois de diversas tentativas do motorista através de comunicação via rádio com a central dos Táxis sem ter tido sucesso, passou-me o microfone para eu falar e tentar resolver a questão. Senti-me um pouco mais aliviado com aquela iniciativa, e dei o nome e endereço do hotel em inglês e português, mas incapaz de o fazer em chinês. Do outro lado, tudo que eu conseguia entender, era que me deveriam estar a falar em chinês, pois os sons eram semelhantes, e a situação ficou por resolver.
O pobre do taxista, por gestos, insistia que nós o deixasse-mos para atender outros clientes chineses, mas eu já estava decidido a não sair do Táxi a não ser à porta do hotel.

Passados uns 15 minutos naquele impasse, algo deve ter brilhado na cabeça do taxista:
com o papel na mão, foi ter com um motorista dum autocarro de turismo, e quando voltou, sorridente e satisfeito, leva-nos para o hotel que ficava no dobrar da esquina, a cerca de 200 metros do cais e ponto de partida.

Depois de acomodados, e quase 10 horas da noite, saímos para jantar num dos muitos restaurantes cerca do hotel. Nova dificuldade: tudo estava escrito em chinês. Nada em inglês e muito menos em português. O que se entendia eram apenas os algarismos! Quis pedir informação a um agente de PSP que policiava o local, que logo me respondeu antes de virar as costas: “mim não falar português”.
Um escoteiro com os seus 12 anos de idade, tendo na farda o emblema português e a palavra PORTUGAL, falava somente chinês. A nossa sorte, que nos permitiu enganar o estômago, foi encontrar o McDonald’s que já estava a fechar, e os dois últimos hambúrgueres que ali estavam expostos, foi como o maná no deserto.

No dia seguinte encontramos um restaurante com uma tabuleta tendo o nome do proprietário escrito em português, e o reclame que dizia ”Serve-se arroz frito à portuguesa”. Entramos, deram-nos o menu onde “ainda em português” e chinês, constavam os pratos que serviam, mas quando quis fazer o pedido, as três moças que dirigiam o restaurante, nada entendiam do que dizia-mos, nem nós conseguimos fazer-nos entender.

Valeu-nos uma jovem chinesa que estava a jantar, que dando conta do que se passava, levantou-se da sua mesa, veio junto de nós oferecendo a sua ajuda, bem preciosa, falando em perfeito português, o que então nos surpreendeu. 
A partir dessa ocasião, nos dias que se seguiram passamos a comer as refeições no hotel,

Como turistas que éramos, com roupa de verão e em calções, num dia de calor, caminhava-mos pela cidade quando ouvimos duas senhoras muitíssimo bem vestidas, provavelmente “da fina-flor portuguesa ali residente” a conversarem em português. Logo me aproximei, cumprimentei-as, e para meu espanto, fui olhado com certo ar de superioridade e desdém, perguntando-me o que eu pretendia delas. Perante tal snobismo e sumptuosidade, pedi desculpa e seguimos o nosso caminho!

Mais tarde encontramos então outro indivíduo que bastante alcoolizado que ia a cantar o fado, rua abaixo; Na livraria portuguesa, ouvimos mais alguém falando a Língua de Camões, e entre eles um sujeito já de certa idade, que proclamava ser um português exilado político do anterior regime de Salazar, e que ali vivia há muitos anos. Pelos vistos era já uma figura carismática de Macau, pois parecia ser conhecido por toda aquela gente ali presente; no único Domingo que lá estivemos, fomos assistir à Missa na Sé, em português, celebrada por padres chineses, e onde encontramos alguns portugueses europeus, entre eles outra senhora que nos deu a conhecer um pouco sobre a vida em Macau, sobretudo da presunção de alguns dos portugueses que mais recentemente para lá tinham ido, e um cavalheiro que se prontificou naquela tarde a mostrar um pouco mais daquilo que ainda não havia-mos visto.

Foi então que nessa segunda-feira seguinte, se passou o acontecimento também aqui anteriormente comentado, de como fomos recebidos no Centro de Informação de Turismo de Macau, pela única pessoa que falava português, que por sorte ali tinha chegado na semana anterior. De outra forma teríamos mais uma contrariedade pela frente.

Assim acabo de contar mais um e último episódio da Surpreendente e Decepcionante Odisseia em Macau, terra que se dizia Portuguesa.


Nota: O que aqui está escrito, não pretende obedecer à “moderna ortografia brasileira”

Manuel da Costa

Sydney,  5-1-2013

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