“MATANDO O TEMPO”
Desde que “precocemente com 72 anos” me
retirei do trabalho que me trouxe para a Austrália, e todos os outros de que
estava incumbido relacionado com Órgãos de Tubos, como restauro, conservação e
afinação, tarefa esta que me ocupava a maior parte do tempo da minha
existência, com uma rotina de trabalho mantida ao longo dos anos, senti um
vazio imenso que teria de preencher para que não me sentisse ocioso.
Decidi então ocupar algum tempo dedicando-me a
escrever, sem no entanto pretender ser escritor, crítico ou contador de
histórias, muito menos me considerando um erudito. Quero desta maneira manter-me
mentalmente activo, para não cair no infortúnio da insanidade.
É certo que eu podia ter continuado naquela lida,
porque me sentia e sinto ainda capaz, até para amestrar quem pudesse ter
interesse e vocação por uma arte para a qual pouca gente poderá ter aptidão de
a exercer, por abarcar conhecimentos específicos não só musicais, técnicos e
habilidade em trabalho manual, como de engenharia organeira.
Poderá dizer-se, englobando diversos ofícios,
como desenho, marcenaria (não carpintaria), serralharia, pichelaria e electrotecnia,
alem de outros relacionados com acústica.
Infelizmente uma grande parte de indivíduos
que se dizem ou se fazem passar por profissionais no trabalho com esses
instrumentos, não têm conhecimentos ou preparação, e muito menos formação que lhes
permitam uma reconhecida reputação profissional.
Muitas das vezes o desfecho do trabalho desses
“talentosos”, tem consequências desastrosas e irreparáveis na integridade dos “infelizes”
instrumentos.
Encontramo-nos numa era em que os artesãos
terão de dar lugar a esses “artistas mais sofisticados”, bastando para isso
serem portadores de papeis, certificados ou diplomas para os creditarem como
profissionais, empresários, ou outros títulos notáveis, para não falar de “artífices”
incumbidos em exibir trabalho que agrade e satisfaça aqueles seguidores da
mesma “escola”, quer sejam musicólogos, consultores ou conselheiros, que de técnica
organeira possam considerar-se “exímios”, sem de tal nada perceberem.
Então há que dar a estes a oportunidade de se ostentarem,
fazerem os seus negócios e criarem para a posteridade o seu próprio sistema
qualificativo de trabalho, onde as “receitas” possam ser superiores à
qualidade que se poderia prever e desejar!
Dando a conhecer a realidade destes factos através
destas crónicas que vou escrevendo, se assim lhe poderei chamar,
“é a maneira de como vou matando o tempo,
antes que o tempo me possa matar”.
Manuel da Costa
Sydney , 23
de Abril de 2012
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