A grande polémica sobre o Órgão de tubos
Mosteiro
do Lorvão
Quis eu mais uma vez debruçar-me sobre o que se passa (e se passou) depois da minha saída do País em 1980, dando assim “lugar” à projectada “escola portuguesa do oportunismo”, criada naquela época, para formação de novos “autodidactas”, mais especificamente relacionado com interesses ligados à preservação e restauro dos Órgãos de Tubos, Órgãos Históricos ou Antigos em Portugal.
Neste
momento está em causa o Órgão Histórico do Mosteiro do Lorvão.
Desde
que cheguei e durante a minha ocupação profissional de Organeiro Especializado,
não apenas um curioso ou habilidoso autodidacta, convidado por esta terra onde
me encontro desde 1980, procurei afastar-me dos “mexericos, interesses e
oportunismos indesejáveis” que nesse meu país se tem enraizado e proliferado
cada vez mais.
Vim
para aqui como imigrado e posteriormente me nacionalizei, sem que tenha ou tivesse
traído as minhas origens, pois embora naturalizado australiano nunca renunciei à
terra em que nasci, ser português, quer por convicção quer pela lei da dupla
nacionalidade.
A
“escola do oportunismo” em Portugal, ressurgiu mais sofisticada em relação
àquele que era já existente, no tempo em que os órgãos a restaurar estavam integrados
num departamento que fazia parte dos Monumentos Nacionais, onde muitas “patifarias”
haviam sido feitas com esses instrumentos, aprovadas e pagas por esse
departamento estadual.
Um mal
já antigo.
Nos
anos 60, não havendo profissionais organeiros com competência e credibilidade,
a Fundação Gulbenkian afim de dar prosseguimento a um projecto para restaurar
os Órgãos de tubos Históricos em Portugal, decidiu investir dando uma bolsa de
5 anos no estrangeiro para formar ou especializar alguém que já com prática e conhecimentos
da arte, satisfizesse os requisitos desejados.
Esse
alguém apareceu, alguns trabalhos foram feitos, mas as oportunidades cessaram
em consequência duma política que veio a ser adoptada em 1974.
A
pessoa responsável pelo projecto foi saneada, e o organeiro obrigado a mudar de
profissão para poder sobreviver.
O
projecto foi cancelado, os subsídios para o efeito terminaram, e tudo o mais
que se seguiu é já do conhecimento de todos.
Foi
assim que nos meados dos anos 80, começaram então a aparecer “organeiros já
mestrados” ou em vias disso, embora a sua prática ou seu envolvimento anterior
com a técnica de organaria fosse desconhecido
ou inexistente. Autodidactas por exemplo, que desde o nada se tornaram
mestres, e assim se formaram “organeiros” em Portugal!
Como
estes, também consultores e especialistas em organaria, se desenvolveram “rápida
e activamente na prática da mesma arte”.
Se
alguém com conhecimentos práticos e competência na arte da organaria em
Portugal tivesse capacidade e fosse honestamente zeloso e responsável pela
supervisão dos trabalhos na manutenção, reparação ou arranjos e até de
“restauro”, como pomposamente lhe chamavam desde que esses instrumentos “dessem
sinal de vida”, esse “negócio” não teria prosperado, e possivelmente a
originalidade desses instrumentos não teria sido comprometida.
Sem um controlo
de qualidade ou autenticidade de restauro, cada “organeiro” teve ou tem a
liberdade de ter feito ou fazer o que entendeu ou entender, sem ter de se
preocupar, uma vez que “na terra dos cegos, quem tem um olho é rei”, como é da
sabedoria popular.
O
importante era ou é, cair nas “boas graças” daqueles com quem o “negócio” é
feito.
Pode ainda
acontecer, como li durante as pesquisas efectuadas, que quem paga alguns desses
trabalhos, por ser uma entidade estadual conhecida de todos aqueles que se
interesse pela Cultura, se sinta “descontente” e então começarem as contendas
em prejuízo dos “menos favorecidos, ou do mais fraco”.
Por
experiência pessoal, tendo eu solicitado informações ao Secretariado da Cultura
em Lisboa,
(IPPC,
IPPAR, IGESPAR ou DGPC, creio ser tudo a mesma “coisa”) sobre competências
práticas reconhecidas na arte do restauro e organaria, que controlaram esses
restauros genuínos ou não, nos trabalhos executados desde há anos a esta parte,
ainda não tive o “privilégio” duma resposta, apesar dos pedidos e insistências
desde alguns anos a esta data!
Uma vez
que me encontro aposentado, agora com mais tempo disponível, vou tentando
manter e exercitar a minha memória, aproveitando as facilidades da Internet, o que
me leva por vezes a encontrar notícias com interesse de foro profissional.
Como
resultado, vou tendo conhecimento de notícias e comentários, por vezes nem
sempre felizes ou agradáveis, incompreencíveis, até porque me “desactualizei”
na maneira como funcionam “certos negócios” na terra que por “necessidade” tive
de deixar.
Vou
também relembrando alguns dos provérbios populares como: “Não suba o sapateiro
além da chinela”, ou ”Gaba-te cesto, que vais à vindima”, estes com pleno
cabimento na acepção de alguns comentários encontrados, feitos por “quem se
considera idóneo” na genuína Arte do Restauro de Órgãos de tubos.
Vem a
"PROPÓSITO", o Órgão do Mosteiro do Lorvão, caso que tenho acompanhado ocasionalmente,
e que se encontra em vias de ser inaugurado após um longo e conflituoso
processo de restauro iniciado em 1995. Não direi que me surpreende, porque para
mim e a este respeito, já pouco me pode surpreender, desde que envolvam
entidades estaduais ou governamentais, e dúvidas quanto a responsabilidades,
competências e honestidade de quem num processo como este, possa estar
envolvido.
Não é
minha intenção de com isto ferir susceptibilidades de quem quer que seja que se
possa sentir atingido, mas apenas manifestar o meu interesse e conhecimentos em
defesa da Qualidade e Autenticidade dos Restauros nos ”indefesos” Órgãos
Históricos, designadamente em Portugal.
Manuel M. Saraiva da Costa
Sydney,
25 de Fevereiro de 2014
Interessante notícia com comentário, que tendo
chegada ao meu conhecimento, me proporcionou escrever esta crónica, se assim se
pode chamar.