Reconstruir, reparar ou arranjar, pode implicar adaptação, modificação ou alteração
ao original. O que não pode ser considerado como Restauro, e sim uma
profanação à sua original construção.
Há quem diga ter restaurado um objecto, sem ter consciência ou respeito pelo valor da sua antiguidade, por entender que poderá não satisfazer os caprichos ou os gostos actuais, mas é a história desse objecto, neste caso o Órgão de Tubos, que estará em causa, pelo comprometimento no seu aspecto e funções que o caracteriza.
A escola é onde os conhecimentos são transmitidos pelos mais velhos e experientes profissionais, aqueles que ao Restauro se dedicaram e obtiveram conhecimentos dessa arte, àqueles que com eles devem aprender com os seus ensinamentos.
Na Arte do Restauro, há quem pretenda saber tudo, ou mais do que aqueles que com consciência e genuinamente respeitam ou procuram respeitar a originalidade da sua construção, e portanto preservar a sua história.
Ainda o pior, são esses que sem qualquer formação em organaria, mas considerando-se já Mestres experientes, procuram ensinar aquilo que nunca aprenderam.
Não é improvisando “melhoramentos”, destruindo o que é de bom e de mau, aquilo que o autor criou, que identifica a sua originalidade e o distingue.
Isto a propósito do que em Portugal tem sido feito com pretensiosos “restauros” dos órgãos de tubos antigos e históricos.
A Fundação Calouste Gulbenkian, na pessoa da então directora do Serviço de Música, Dra. Maria Madalena Perdigão, quis preservar esses instrumentos, com um projecto de Recuperação e Restauros, então iniciado no estrangeiro nos anos 60 do século passado, porque em Portugal não havia quem com comprovada capacidade e conhecimento, os pudesse fazer.
Em 1974, infelizmente esse projecto acabou por não ter continuidade, por decisões de políticas resultantes da então revolução, de 25 de Abril.
Os Governos que a
partir de então se sucederam, tiveram a preocupação não de
governarem o País, mas governando-se a si próprios, com apoio
daqueles que então para isso por eles foram aliciados, abrindo
caminho para um oportunismo irresponsável e desmedido.
Profissionais
competentes de todas as profissões, necessários para engrandecer a
Nação, tiveram de emigrar para dar lugar a tantos outros, ou mais,
que rapidamente “à la minute” se formaram, sem que possuíssem
conhecimentos, e muito menos prática, habilitações mínimas
necessárias para os trabalhos a executar, tornando-se cúmplices em
“negócios menos claros”, que não só os favoreciam como iriam
favorecer aqueles a quem os trabalhos lhes entregava.
A falta de
responsabilidade e a desonestidade não seria só da parte dos
governantes, mas até da Igreja, a quem esses órgão estão
confiados.
Por inúmeras
vezes tenho escrito a este respeito, no que se refere ao órgãos
supostamente restaurados, sem supervisão de alguém para isso
acreditado, facilitando assim que pretensiosos restauradores façam o
que entendam e o que apenas sabem fazer, já que para genuínos
Restauros não estão credenciados.
Nunca qualquer
Ministério dos Governos após 1974, deu público conhecimento de
quem tivesse sido legitimamente responsável pela orientação e
qualidade daqueles muitos “restauros” que se fizeram e continuam
a fazer, não obstante eu mesmo e por diversas vezes o ter
solicitado.
Tudo o que a este
respeito escrevo e tenho escrito, é na tentativa ou intenção de
poder contribuir para a Defesa e Preservação, não apenas material
como histórica, dos antigos e históricos Órgãos de Tubos, nosso
Património Cultural e Nacional.
Manuel da Costa,
Sydney, 27 de
Agosto de 2019
No comments:
Post a Comment