<Órgãos da Sé do Porto voltam a soar após restauro> II
<http://www.dn.pt/artes/interior/orgaos-da-se-do-porto-voltam-a-soar-apos-restauro-5733422.html>
Eu trabalhava com
meu pai, numa oficina de reparação e afinação de pianos e órgãos,
na Rua dos Caldeireiros 169, Porto, e de lá ia a pé para as aulas
no Conservatório de Música.
No caminho passava
pela Praça da Cordoaria onde era habitual os propagandistas ou
charlatães, venderem a "banha da cobra", assim como outros
produtos. Procuravam impressionar e chamar à atenção do público,
exibindo cobras e macacos.
Quem esses produtos
compravam, por estarem convencidos pelo vendedor da "sua
eficiência e qualidade", acabavam depois por se sentirem
ludibriados.
Isto serve como
preambulo ao que é dito sobre os "restauros" dos órgãos
históricos da Sé do Porto, pelo seu pretenso restaurador, e ao qual
eu peço que com dignidade e honestidade, sendo ele "um
profissional como o diz", clarifique melhor, o que quer dizer
nos parágrafos que abaixo indico. Já que com "palavras e
bolos, se enganam os tolos".
Tenho idoneidade
como pessoa e como profissional, e sou bem conhecedor desses órgãos,
para no interesse da integridade desses instrumentos, exigir ser
esclarecido sobre qualquer modificações, substituições e
alterações feitas depois de 1970, sofridas por quem se julga com
competência para as fazer ou ter feito.
http://manuelsaraivadacosta.blogspot.com.au/search?updated-max=2014-12-09T23:38:00-08:00&max-results=7&start=8&by-date=false
É muito fácil
enganar quem nada entende da arte de organaria e restauro, quer por
quem pretende ser "artista" como por quem o apoia por
conveniência, mas não a qualquer digno profissional conhecedor e
habilitado na arte de organaria e restauro.
São os seguintes 7
parágrafos" da autoria do "restaurador", que devem
ser devidamente esclarecidos a fim de serem compreendidos não só
por quem é desconhecedor deste assunto como por quem nisso é
entendido:
-
"A harmonização está a ter em conta essas duas identidades. Mas apesar de as respeitar, é preciso perceber que eles vão tocar juntos. E para que toquem juntos é preciso fazer uma harmonização que dá ao órgão da epístola um som mais grave, complementando o que o órgão do evangelho não tem", descreveu Dinarte Machado, organeiro há mais de três décadas.
-
Dinarte Machado contou à Lusa que o trabalho da sua equipa*) surge depois de duas outras grandes intervenções, uma levada a cabo no século XIX por um organeiro da zona do Porto que assinava com o nome "Santos" e outra feita nos anos 1970 pela empresa holandesa Flentrop.
- "O Santos fez uma intervenção no órgão da
epístola e aumentou o número de registos graves de base. Foi
muito inteligente da parte dele. Não desmistifica em nada o
conjunto", apontou Dinarte Machado que já sobre a operação
levada a cabo pela empresa holandesa é menos otimista, considerando
que a Flentrop "terá tentado manter as caraterísticas dos
órgãos mas aplicou materiais que hoje não são concebíveis".
-
"O trabalho dessa firma foi importante por pôr os
instrumentos a tocar. Nos anos 1970 encontraram o órgão do
evangelho totalmente degradado. Do ponto de vista de filosofia de
conservação e restauro não foi uma catástrofe mas foi muito
próximo", analisou.
-
O mestre organeiro, que foi condecorado pelo Presidente da
República e ganhou o prémio internacional Europa Nostra em 2010,
teve agora a missão de recuperar a qualidade do vento,
corrigindo a posição dos foles, peças que descreve como "os
pulmões dos órgãos".
-
"Se calhar há quem
ache que qualquer um pode fazer isto desde que saiba apertar um
parafuso. Não é bem assim", alertou, acrescentando que
conseguiu substituir os "materiais menos nobres"
encontrados pelas corrediças originais e históricas que "por
acaso estavam conscientemente guardadas".
-
Soma-se a
correção de aspetos mecânicos e, do lado da epístola, a
retirada de um forro de madeira de pinho considerado "prejudicial
em termos acústicos".
Tenho sérias dúvidas que os esclarecimentos possam de forma honesta e de modo inequívoco, serem dados a conhecer sobre o que foi dito e ter sido feito, por quem obrigatoriamente possa ser responsável.
*) Seria de reconhecer que nesta equipa, possa haver alguém mais habilitado e competente em organaria, do que o intitulado e presunçoso "restaurador".
Manuel da Costa
Sydney 23 de Abril de 2017
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